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17
maio
12

Uma análise de “Alternativas inteligentes de uso de energia” – Ladislau Dowbor

Não sei se isso é muito recorrente para vocês, mas pra mim é algo muito raro. Sabe, quando você começa e ler um texto e encontra seus argumentos escritos por outra pessoa? Sabe, quando você imagina que poderia ter escrito aquele texto? Pois bem, aconteceu comigo quando eu lia o artigo citado no título deste post  de autoria do professor da PUC/SP, Ladislau Dowbor, é parte integrante do livro Energias Renováveis no Brasil.

Trazendo uma abordagem realista da questão energética para os dias atuais, o autor enxerga longe ao conseguir conciliar as necessidades modernas com a economia necessária para a sustentabilidade do planeta. Utilizando-se de uma excelente alegoria em que o planeta Terra é visto como uma espaçonave, o autor vislumbra uma mudança de comportamento ao orientar que devemos nos comportar como tripulantes dessa espaçonave e não como meros passageiros.

Ao longo do texto, Dowbor demonstra as vantagens de um planejamento bipolar, ao qual podemos até pensar na expansão da produção elétrica, mas temos também que acabar com o desperdício no consumo. Vale ressaltar que esse combate ao desperdício não tem qualquer relação com a privação do consumo elétrico, que é entendido como um “conforto essencial” do século XXI. A produção elétrica por sua vez deve transformar sua matriz em soluções ecológicas, principalmente investindo na microprodução e na substituição dos combustíveis fósseis por tecnologias verdes.

Alguns números alarmantes são apresentados, como: o tempo médio que a população de São Paulo perde no transporte diário entre a casa e o trabalho, como é bem descrito pelo autor: “tempo em que as pessoas nem descansam nem trabalham, nem estão com a família”, que está muito próximo de 3 (três) horas diárias; numa faixa de automóveis, onde trafegam 3 (três) mil pessoas por hora, no mesmo momento, na faixa de ônibus trafegam 23 (vinte e três) mil pessoas. Agora, adivinhe quem mais polui: as 3 (três) mil ou os 23 (vinte e três) mil pessoas? E se todos essas 26 (vinte e seis) mil pessoas usassem o metrô?

Vários exemplos e casos são citados, números são trazidos à tona e todo um cenário rico, complexo e implícito para a maioria dos mortais é exibido, clarificando o entendimento da situação atual. Um texto fácil de ser lido e entendido por uma grande parcela da população.

O único pecado do texto consiste no pudor ambientalista do autor. E isso é uma coisa que me intriga. Se você entender o funcionamento da “sociedade mundial” e desejar que nos comportemos como seres ecológicos-sustentáveis, você está se declarando anti-sistêmico, ou melhor, a sustentabilidade do mundo e a manutenção do sistema capitalista são incompatíveis. Por que isso não fica claro nos textos ambientalistas?

Os escritos de Marx podem servir como bandeira para qualquer movimento verde. Necessitamos que o valor de uso de nossos produtos e serviços sejam superiores aos seus respectivos valores de troca, ou seja, o fim do capitalismo é imperativo para qualquer tentativa de salvar o mundo.

Precisamos acabar com esse fetiche de comunismo isso, socialismo aquilo. Acredito até que os militantes verdes saibam disso, pois muitas vezes esquivam-se de rótulos de esquerda para fincar uma bandeira cor-de-rosa, digo verde, de salvar o planeta, no intuito de não gerar resistências ao discurso. Mas a pergunta que fica é: O movimento verde tem tempo suficiente para seguir essa estratégia de não enfretamento? O planeta suporta por mais quanto tempo o nosso way of life? E se tiver tempo suficiente, os capitalistas serão conscientizados e mudarão de lado? Não acredito… Creio que não há outro caminho que não seja aumentar o tom vermelho dessa bandeira cor-de-rosa.

Também faço uma mea-culpa. Assim como o movimento verde deve assumir seu caráter esquerdista, parte considerável da esquerda deve acordar para a questão ambiental. Só este casamento pode salvar o mundo! Por fim, lembro que o movimento de esquerda não é necessariamente aqueles que se dizem de esquerda, assim como os pseudo-ambientalistas, existe os pseudo-esquerdistas.

O artigo pode ser lido integralmente aqui (arquivo Open Document Text, 24KB), ou na página do Ladislau Dowbor.

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“Uma análise de “Alternativas inteligentes de uso de energia” – Ladislau Dowbor” por Gutemberg Motta é licenciado sob Creative Commons Atribuição 2.5 Brasil License.

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